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Abusos são "extremamente graves" e precisam de "tolerância zero". Papa falou aos jornalistas no avião para Roma

por Joana Raposo Santos - RTP

Maurizio Brambatti - POOL

Na viagem de Lisboa a Roma a bordo de um avião da TAP, o papa respondeu às questões dos jornalistas, entre os quais Fátima Campos Ferreira, da RTP. Sobre os abusos sexuais no seio da Igreja Católica, Francisco lamentou uma situação "extremamente grave" e disse ser necessário "tolerância zero".

“Os pastores que de alguma forma não fizeram o que deviam ter feito têm de ser responsabilizados por isso, cada um da sua forma”, defendeu o papa, dizendo que “é muito duro o mundo dos abusos”.

Francisco falou em concreto sobre o caso português, referindo que “o processo na Igreja portuguesa está a avançar bem e com serenidade”, serenidade essa que disse ser necessária no caso dos abusos.

“Os números por vezes são exagerados por causa de comentários que são feitos”, frisou o papa, pedindo aos jornalistas que colaborem para que todo o tipo de abusos sejam solucionados.

“O abuso é como uma forma de comercializar a vítima, ou pior, feri-la e deixá-la viva. Falar com uma pessoa vítima de abusos é uma experiência muito dolorosa. E a mim faz-me bem, não porque goste de o ouvir, mas porque me ajuda a perceber este drama”, acrescentou.

Francisco chamou também a atenção para outro tipo de abusos, como o laboral ou a mutilação genital.
“A minha saúde está bem”
Um dos jornalistas no avião da TAP perguntou sobre o estado de saúde do papa. “A minha saúde está bem. Levo uma vida normal”, respondeu.

“Tenho uma cinta que devo usar mais dois ou três meses para que os músculos fiquem mais fortes. Quanto à minha visão, naquela paróquia tive de interromper o discurso porque estava uma luz de frente a encadear-me e não conseguia ler”, justificou Francisco, referindo-se ao discurso em Fátima que acabou por improvisar, fugindo ao guião.

Sobre essa prática de fugir aos discursos preparados, o papa diz que quando fala procura sobretudo a comunicação eficaz.

“Com os jovens, nos discursos muito longos é importante transmitir-lhes o essencial da mensagem, e eu tento perceber sempre se a comunicação está a passar”, explicou.
Igreja aberta a todos não significa igual para todos
Um dos jornalistas perguntou se existe incoerência na Igreja, que se diz aberta a todos mas não é igual para todos, já que mulheres ou homossexuais não têm os mesmos direitos dentro da instituição.

“A Igreja está aberta a todos. Depois há legislações, regras que ditam a vida dentro da Igreja”, esclareceu o papa. “Não poderem fazer os sacramentos não quer dizer que a Igreja esteja fechada”.

Na visão de Francisco, “a Igreja é a mãe e orienta todos e cada um pelo seu caminho”, e depois cada um “procurará a forma de prosseguir”, e isto vale para todos: “doentes e sãos, velhos e jovens, feios e bonitos, bons e maus, até os imorais”.

A última questão foi sobre o que deve dizer-se a jovens que lutam contra problemas de saúde mental. “Hoje, o suicídio juvenil é um problema importante em termos numéricos”, considerou o papa.

“Em diálogo com os jovens, aproveitei para conversar com eles e um rapaz perguntou-me o que eu penso sobre o suicídio”, contou. “No final, disse-me ‘muito obrigado, porque o ano passado estive indeciso se devia ou não cometer suicídio’. E há tantos jovens angustiados, deprimidos”.

O papa terminou este domingo a visita a Portugal para participar na Jornada Mundial da Juventude, que na noite de sábado juntou no Parque Tejo um milhão e meio de pessoas para a vigília com o sumo pontífice.
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